sábado, 14 de novembro de 2009

O Uso do Veu para as irmãs nos dias de hoje (parte2) .

<blockquote>Permitem Após uma análise bem minuciosa do texto de 1Co 11.2-16, qualquer leitor só poderá concluir que o apóstolo Paulo realmente doutrinou que as mulheres cristãs dos tempos do Novo Testamento deveriam usar o véu quando da adoração ao Senhor. A igreja de Corinto foi a única igreja gentílica a adotar uma postura diferente das demais igrejas, tanto de maioria judaica como de maioria gentílica, incorrendo em flagrante rebelião contra os costumes das demais igrejas, e dessa questão o apóstolo Paulo tratou minuciosamente no texto supracitado. Que a conclusão de que a posição das mulheres da Igreja de Corinto era diametralmente oposta à prática de todas as igrejas do NT, como está explícita no v.16, hoje é patente até mesmo nos escritos contemporâneos de eruditos católicos liberais da ala da crítica radical, como Paul Hoffmann, que demonstra profunda insatisfação pelo fato de Paulo ter exigido que o movimento de emancipação da mulher em Cristo da igreja em Corinto cessasse e que elas usassem o véu como as demais igrejas. Paul Hoffmann[1] disse que Paulo errou ao fazer essa exigência das irmãs de Corinto e recaiu em preconceitos judaicos! Isto é só para sentir como os liberais consideram a Escritura e os autores sagrados! Nos escritos de eruditos reformados conservadores também a conclusão é óbvia. O Dr. Augustus Nicodemus Lopes, erudito reformado conservador, ao analisar 1Co 11.2-16, chegou à conclusão de que a posição das mulheres da Igreja de Corinto era diametralmente oposta à prática de todas as igrejas do NT, e apresentou até mesmo uma alternativa para “os estudiosos que já perderam a esperança de poder sistematizar, de forma harmônica, as passagens do Novo Testamento que tratam, por um lado, da igualdade ontológica do homem e da mulher, e por outro lado, da diferenciação em suas funções”.[2] Pois uns dizem, segundo Lopes, que o ensino de 1Co 11.2-16 foi causado pela cultura da época e pelas circunstâncias prevalecentes na cidade de Corinto. Lopes continua: “Outros insistem que Paulo estava condicionado pela cultura predominantemente machista e patriarcal de sua época, que suas palavras são condicionadas culturalmente e, portanto, inadequadas para as culturas e sociedades pós-modernas”[3] do século XXI. Assim, Lopes apresenta uma alternativa a essas soluções de desespero, dizendo:

“Tais soluções de desespero deixam de perceber alguns pontos simples. O principal é a distinção entre o princípio teológico supracultural e a expressão cultural deste princípio. Enquanto o uso do véu é claramente um costume cultural, ao mesmo tempo expressa um princípio que não está condicionado a nenhuma cultura em particular, que é o da diferença fundamental entre o homem e a mulher. O que Paulo está defendendo é a vigência desta diferença no culto – o véu é apenas a forma pela qual isso ocorria normalmente em cidades gregas do século I. Além disso, Paulo defende a apresentação diferenciada da mulher no culto usando argumentos permanentes, que transcendem cultura, tempo e sociedade, como a distribuição ou economia da Trindade (1Co 11.3) e o modo pelo qual Deus criou o homem (1Co 11.8-9) . Acresce ainda que Paulo defende o uso do em Corinto apelando para o costume das igrejas cristãs em geral (1Co 11.16), o que indica que o uso do véu não era prática restrita apenas à cidade de Corinto, mas de todas as igrejas cristãs espalhadas pelo mundo grego”.[4]

Em nossa análise da questão do uso do véu, aceitamos quase que plenamente a esmerada exegese de Lopes, apenas diferindo de sua conclusão de que a expressão cultural dos princípios subjacentes não é permanente. Acreditamos, por razões que mais à frente explicitaremos, que o uso do véu é para nossos dias. Uma razão simples que motiva nossa convicção é a observação de que Paulo faz menção à necessidade do uso do véu devido à presença dos anjos nas reuniões da igreja. Ora, se os anjos ainda hoje freqüentam regularmente as reuniões da igreja, pois esse não foi um privilégio apenas das igrejas do primeiro século (Hb 1.14), então, enquanto houver anjos assistindo as reuniões da igreja, cremos que o véu das mulheres deverá ser mantido.

Pois bem, depois de concluir que a defesa do uso véu saiu da lavra apostólica, de modo claro e indubitável, uma questão se impõe: Pela maneira como ensinou o apóstolo, o uso do véu quando da adoração seria uma obrigatoriedade para as mulheres cristãs até os nossos dias, então por que a igreja evangélica reluta em obedecer a essa doutrina? A igreja evangélica de nossos dias não está se comportando exatamente como a igreja de Corinto, de modo a levar avante a mesma atitude de rebelião contra a autoridade apostólica que prevalecia no seio daquela igreja até à época em que Deus usou o apóstolo para corrigir essa situação?

Infelizmente temos de admitir que esta é a situação vigente na maior parte do evangelicalismo contemporâneo. São raras as igrejas evangélicas que encaram as determinações de Deus através do apóstolo Paulo realmente como determinações divinas. Hoje, a maior parte das mulheres evangélicas não adora a Deus durante o culto coberta com véu. E isto não decorre, como demonstrei em meu outro artigo sobre este assunto (O uso do véu – reinterpretando 1Co 11.2-16)[5], de qualquer possibilidade interpretativa honesta. A menos que sejamos infiéis em nossa interpretação das Escrituras é que podemos deduzir que Paulo ensinou outra coisa diferente, conforme qualquer leitor poderá concluir através da simples leitura de 1 Co 11.2-16, ou, se preferir, com a ajuda da abordagem lúcida e sucinta do meu artigo anterior, ou do livro citado na nota 5, nos quais recorri a muitos excelentes intérpretes para não falar sozinho.

Às vezes fico pensando o que seria de nós se não tivéssemos em mãos a Palavra de Deus, e se esta Palavra não possuísse esses registros sagrados acerca da Igreja em Corinto. Essa igreja, aliás, como retratada nas duas epístolas de Paulo endereçadas a ela, é a chave para entendermos grande parte dos problemas que ocorrem hoje em dia na igreja evangélica. Do divisionismo ao feminismo, do intelectualismo árido à pseudo-espiritualidade, do liberalismo esquálido ao fundamentalismo infecundo, passando pelo legalismo causticante e pela hedionda carnalidade exacerbada, enfim, todas as nuanças de problemas que o evangelicalismo contemporâneo enfrenta podem ser identificadas, mesmo que embrionariamente, na Igreja de Corinto. Contudo, o que a grande maioria de nós, evangélicos, precisa reconhecer é que os problemas tratados ali naquela igreja incipiente não são para ser repetidos, mas para que nós fiquemos com a solução provida por Deus através da autoridade apostólica. Lamentavelmente, a despeito de todas as instruções de que dispomos, emulamos prazerosamente o modo coríntio de ser igreja, como se aquela vivência deformada de igreja com suas caricaturas de espiritualidade fosse o nosso paradigma! Estamos aí, após tantos séculos, aplaudindo e justificando nossas divisões com artifícios hermenêuticos e exegéticos que corariam e, por certo, irritariam os apóstolos, caso eles pudessem se pronunciar, uma vez que atribuímos a eles a causa do perfil fragmentado e multifacetado da igreja evangélica contemporânea, quando afirmamos que eles disseram que é assim mesmo que se manifesta a “multiforme graça de Deus”! Salvo um lapso de memória, o divisionismo que vemos hoje na igreja evangélica pode ser justificado, por exemplo, à luz do ensino do apóstolo Paulo em 1Co 1.10-13?

Contudo, deixemos essa questão do divisionismo de lado, por enquanto, e aduzamos apenas três diretrizes hermenêuticas bíblicas que nos permitirão consolidar nossa inequívoca conclusão de que o véu para a adoração das servas de Deus é uma questão contemporânea, se é que admitimos que a Bíblia é a Palavra de Deus inspirada, autoritativa e normativa.

Em nosso artigo anterior, vimos que a primeira razão para esta conclusão é que consistiria em uma violação do princípio bíblico da autoridade da Escritura afirmar que os apóstolos ministraram muitos ensinos condicionados pela cultura de seu tempo e que não podemos fazer uma transposição de muitas partes do Novo Testamento para os nossos dias. Mostramos que afirmar a presença de “dependência da cultura” nos ensinamentos apostólicos significa negar as doutrinas da inspiração e autoridade da Escritura, ao mesmo tempo em que nos lança em um verdadeiro subjetivismo, para estabelecer o que é ou não é condicionado culturalmente e, assim, roubando-nos todos os critérios objetivos. Este é um dos grandes males que o MHC (Método Histórico-Crítico) trouxe para a vida da Igreja: roubou a autoridade da Bíblia e investiu os intérpretes de autoridade para dizer o que nela está certo ou errado, o que é aplicável ou não contemporaneamente. Dissemos, portanto, que, efetivamente, tal procedimento não deixa de parecer com um tipo de gnosticismo[6] pós-moderno ou é uma outra forma moderna ou pós-moderna de fazer crítica da Bíblia para sancionar o querer do intérprete! Realmente, na maioria das vezes, o próprio intérprete é que está condicionado pelo legado tradicional mantido por sua denominação. Infelizmente, quando o intérprete tem de escolher entre o claro ensino da Escritura e sua tradição denominacional, por uma questão de conveniência, ele prefere ficar com sua tradição. Caímos, quando assim procedemos, na mesma condenação dos escribas e fariseus dos tempos de Jesus: invalidamos a Palavra de Deus pela nossa tradição! Peço ao leitor que leia Mt 15.1-6 com atenção e reanalise a situação da igreja evangélica contemporânea à luz desse texto. É de bom alvitre ressaltar aqui que há uma tradição no NT divinamente estabelecida e que ninguém, em tempo algum, tem autoridade de abolir, a menos que seja uma vítima do MHC e se julgue com esse direito. Diz o apóstolo Paulo em 2Ts 2.15: “Então, irmãos, estai firmes e retende as tradições que vos foram ensinadas, seja por palavra, seja por epístola nossa”.

A segunda razão que precisamos considerar para admitirmos a permanência do véu das mulheres na igreja hoje é de caráter semiológico, ou seja, diz respeito à maneira como lidamos com os símbolos estabelecidos por Deus para a igreja. Assim, quando encontramos, por exemplo, na nota de rodapé da Bíblia de Estudo Pentecostal acerca desta passagem, v. 6, a assertiva seguinte: “o princípio subjacente ao uso do véu deve permanecer, enquanto que o símbolo não”, temos de escolher entre o ensino apostólico e uma tradição interpretativa que se choca com esse ensino. Pois, abolir o uso do véu arbitrariamente por ser apenas um símbolo no NT e tentar abstrair um princípio subjacente é dicotomizar injustificavelmente o símbolo e a realidade simbolizada, passando por cima do claro ensino do apóstolo, cuja intencionalidade comunicativa claramente exposta em seu texto jamais sancionaria tal procedimento. De fato, isto demonstra, também, um procedimento semiológico dúbio, infundado e até perigoso. Por que? Porque estabelece a autoridade do intérprete em decidir o que deve e o que não deve permanecer na Palavra de Deus, quanto à questão dos símbolos. Então, se eu sou a autoridade nessas questões, a Bíblia deixa de ser a autoridade; quer dizer, o intérprete se coloca em posição acima da do apóstolo, que ordena explicitamente: Que ponha o véu!

Deste modo, se eu posso decidir ficar com alguns símbolos que julgo necessários e abolir outros que julgo supérfluos, este procedimento semiológico abre espaço para eu ter de calar-me quando alguém extrapolar nessa linha de ação, alegando que o que realmente importa é a realidade simbolizada e abaixo qualquer tipo de símbolo! Assim, se surgir um novidadeiro teológico, vítima do MHC (consciente ou inconsciente), que adotou esta posição extremada e julga que não são mais necessários o batismo, a santa ceia, o lava-pés, o ósculo santo, e outro símbolo do NT, por serem apenas símbolos, que autoridade eu terei para discordar dele, tendo em vista que eu também procedi da mesma maneira e aboli os símbolos que julguei inconvenientes e mantive outros que quis, e ele da mesma maneira? Bem, então, a questão se complica, pois se os homens são as autoridades, cada um fará o que quiser neste campo semiológico e ninguém tem direito de reclamar. Sem contar que, nesta linha de ação, tal novidadeiro teológico estaria seguindo na mesma direção que seguiu Rudolph Bultmann até que se afundou nas areias movediças de seu desassisado projeto de demitologização do evangelho em Neues Testament und Mythologie, (1964), (O Novo Testamento e Mitologia)[7]. Tudo tem um início. Os gases hermenêuticos bultimannianos, mefíticos e letais, ainda estão asfixiando muitos intérpretes até os nossos dias, desde a academia evangélica até aos púlpitos. Digo com pesar que, através de muitos simuladores de alter-ego ( pois uma boa parte dos seguidores de Bultmann possui apenas fração ínfima de sua vastíssima erudição), Bultmann, depois de morto, infelizmente ainda fala! Por ser diácono, foi cunhado o provérbio em sua memória: “Resisti ao diácono e ele fugirá de vós”. A referência óbvia aqui é a Rudolph Bultmann.

Contudo, as coisas não devem ser assim. Neste caso especifico dos símbolos do NT, é melhor que ouçamos Ferdinand de Saussure, o grande lingüista, que postulava que o significante é indissociável do significado, como os dois lados de uma moeda, e mantenhamos os símbolos que nos foram legados no NT, embora saibamos que o que importa mesmo é a realidade simbolizada. Então, diz o apóstolo, no caso das mulheres: Que ponha o véu!

Por fim, a terceira razão que nos leva a concluir em favor da contemporaneidade do uso do véu pelas mulheres na igreja de Cristo é que se torna dispensável dizer que o véu era, de fato, um costume social nos dias do NT e não foi uma criação da igreja. Por estarem inseridas dentro daquele contexto social específico, as mulheres das igrejas do NT não poderiam deixar de usar o véu. Se esse costume se constituísse apenas em uma mera imposição cultural, nada haveria nele que justificasse sua permanência na igreja pelos séculos afora. Basta observarmos, por exemplo, que a escravatura – uma prática cultural não abolida definitivamente pela igreja do NT, mas cuja natureza foi tão profundamente abalada pelos conceitos de igualdade dos membros do corpo de Cristo e de dignidade da pessoa humana ensinados pelo evangelho –, que acabou por ruir quase que totalmente séculos depois. Nada justificaria hoje termos escravos só porque alguns irmãos da igreja primitiva tinham escravos e não foram reprovados por tê-los, ainda que eles tenham recebido novas instruções sobre como tratar os irmãos escravos com toda a cordialidade que é pertinente em Cristo.

De fato, o que não podemos olvidar ou deixar de perceber é que o apóstolo Paulo, ao tratar da questão do uso do véu, em nenhum momento o faz com base em costumes sociais, porém, como o Dr. Charles Ryrie asseverou com toda a lucidez na Bíblia Anotada, nas notas sobre esta passagem de 1Co 11.2-16, p. 1446: “As mulheres deveriam trazer sua cabeça coberta, ou usar um véu nas reuniões da Igreja, e os homens deveriam ter a cabeça descoberta. As razões de Paulo eram baseadas em teologia (hierarquia na criação, v. 3), na ordem na criação (vv. 7-9), e na presença de anjos nas reuniões da igreja (v. 10). Nenhuma destas razões estava baseada em costumes sociais da época”. Deste modo, percebemos que o apóstolo Paulo procedeu a uma total ressemantização desse costume cultural, quer dizer, por revelação divina o apóstolo confere ao véu das mulheres uma significação completamente nova e ele imprime nele traços jamais divisados anteriormente por nenhum outro escritor, profano ou sagrado, de tal modo que ocorre o esvaziamento de quaisquer traços culturais, locais e temporais anteriores, a ponto de ocorrer uma ruptura semântica definitiva com quase tudo quanto o mesmo viesse a significar antes, e um revestimento de novos traços, com os quais ele entra no cânon sagrado. É óbvio que, olhando pela perspectiva da Teologia Bíblica, tal fato se justifica por estar em consonância com o caráter progressivo da história da revelação divina e pela seletividade divinamente orientada do que deveria constar do cânon sagrado. Assim, o Apóstolo dos Gentios vai muito além de si próprio, nas mãos do Espírito Santo, quando reanalisa a questão do véu, de forma a refundamentá-la em bases bíblico-teológicas completamente surpreendentes, apelando para o bom senso e, inusitadamente, atrelando-a, no clímax de seus argumentos, à presença dos anjos nas reuniões da igreja. É relevante destacarmos que, a partir dessas reanálises e refundamentações, quando o apóstolo Paulo revisita a questão do véu por inspiração divina e o ressemantiza do modo como lemos no texto em apreço, esvaem-se todos os argumentos a favor da pressuposição de que haja no NT doutrinas oriundas de condicionamentos culturais, locais e temporais. Por conseguinte, o véu das mulheres de 1 Co 11:2-16, embora fosse antes apenas um costume da época e da cultura dos tempos do NT, após revisitação, reanálise e refundamentação bíblico-teológica ou, em outras palavras, após sua ressemantização divina na instrumentalidade do apóstolo Paulo, passa a possuir um mais amplo sentido e a incorporar traços distintivos divinamente revelados, no momento e no lugar exatos da história da revelação, que o tornam supratópico, supracultural e supratemporal.[8] Somente a parussia (segunda vinda de Cristo) eliminará a necessidade do uso do véu por parte das mulheres cristãs quando da adoração, quando oram ou profetizam.

Assim, leitor, eu creio que essas três razões bem explicitam o que nos propusemos demonstrar e nospermitem Após uma análise bem minuciosa do texto de 1Co 11.2-16, qualquer leitor só poderá concluir que o apóstolo Paulo realmente doutrinou que as mulheres cristãs dos tempos do Novo Testamento deveriam usar o véu quando da adoração ao Senhor. A igreja de Corinto foi a única igreja gentílica a adotar uma postura diferente das demais igrejas, tanto de maioria judaica como de maioria gentílica, incorrendo em flagrante rebelião contra os costumes das demais igrejas, e dessa questão o apóstolo Paulo tratou minuciosamente no texto supracitado. Que a conclusão de que a posição das mulheres da Igreja de Corinto era diametralmente oposta à prática de todas as igrejas do NT, como está explícita no v.16, hoje é patente até mesmo nos escritos contemporâneos de eruditos católicos liberais da ala da crítica radical, como Paul Hoffmann, que demonstra profunda insatisfação pelo fato de Paulo ter exigido que o movimento de emancipação da mulher em Cristo da igreja em Corinto cessasse e que elas usassem o véu como as demais igrejas. Paul Hoffmann[1] disse que Paulo errou ao fazer essa exigência das irmãs de Corinto e recaiu em preconceitos judaicos! Isto é só para sentir como os liberais consideram a Escritura e os autores sagrados! Nos escritos de eruditos reformados conservadores também a conclusão é óbvia. O Dr. Augustus Nicodemus Lopes, erudito reformado conservador, ao analisar 1Co 11.2-16, chegou à conclusão de que a posição das mulheres da Igreja de Corinto era diametralmente oposta à prática de todas as igrejas do NT, e apresentou até mesmo uma alternativa para “os estudiosos que já perderam a esperança de poder sistematizar, de forma harmônica, as passagens do Novo Testamento que tratam, por um lado, da igualdade ontológica do homem e da mulher, e por outro lado, da diferenciação em suas funções”.[2] Pois uns dizem, segundo Lopes, que o ensino de 1Co 11.2-16 foi causado pela cultura da época e pelas circunstâncias prevalecentes na cidade de Corinto. Lopes continua: “Outros insistem que Paulo estava condicionado pela cultura predominantemente machista e patriarcal de sua época, que suas palavras são condicionadas culturalmente e, portanto, inadequadas para as culturas e sociedades pós-modernas”[3] do século XXI. Assim, Lopes apresenta uma alternativa a essas soluções de desespero, dizendo:

“Tais soluções de desespero deixam de perceber alguns pontos simples. O principal é a distinção entre o princípio teológico supracultural e a expressão cultural deste princípio. Enquanto o uso do véu é claramente um costume cultural, ao mesmo tempo expressa um princípio que não está condicionado a nenhuma cultura em particular, que é o da diferença fundamental entre o homem e a mulher. O que Paulo está defendendo é a vigência desta diferença no culto – o véu é apenas a forma pela qual isso ocorria normalmente em cidades gregas do século I. Além disso, Paulo defende a apresentação diferenciada da mulher no culto usando argumentos permanentes, que transcendem cultura, tempo e sociedade, como a distribuição ou economia da Trindade (1Co 11.3) e o modo pelo qual Deus criou o homem (1Co 11.8-9) . Acresce ainda que Paulo defende o uso do em Corinto apelando para o costume das igrejas cristãs em geral (1Co 11.16), o que indica que o uso do véu não era prática restrita apenas à cidade de Corinto, mas de todas as igrejas cristãs espalhadas pelo mundo grego”.[4]

Em nossa análise da questão do uso do véu, aceitamos quase que plenamente a esmerada exegese de Lopes, apenas diferindo de sua conclusão de que a expressão cultural dos princípios subjacentes não é permanente. Acreditamos, por razões que mais à frente explicitaremos, que o uso do véu é para nossos dias. Uma razão simples que motiva nossa convicção é a observação de que Paulo faz menção à necessidade do uso do véu devido à presença dos anjos nas reuniões da igreja. Ora, se os anjos ainda hoje freqüentam regularmente as reuniões da igreja, pois esse não foi um privilégio apenas das igrejas do primeiro século (Hb 1.14), então, enquanto houver anjos assistindo as reuniões da igreja, cremos que o véu das mulheres deverá ser mantido.

Pois bem, depois de concluir que a defesa do uso véu saiu da lavra apostólica, de modo claro e indubitável, uma questão se impõe: Pela maneira como ensinou o apóstolo, o uso do véu quando da adoração seria uma obrigatoriedade para as mulheres cristãs até os nossos dias, então por que a igreja evangélica reluta em obedecer a essa doutrina? A igreja evangélica de nossos dias não está se comportando exatamente como a igreja de Corinto, de modo a levar avante a mesma atitude de rebelião contra a autoridade apostólica que prevalecia no seio daquela igreja até à época em que Deus usou o apóstolo para corrigir essa situação?

Infelizmente temos de admitir que esta é a situação vigente na maior parte do evangelicalismo contemporâneo. São raras as igrejas evangélicas que encaram as determinações de Deus através do apóstolo Paulo realmente como determinações divinas. Hoje, a maior parte das mulheres evangélicas não adora a Deus durante o culto coberta com véu. E isto não decorre, como demonstrei em meu outro artigo sobre este assunto (O uso do véu – reinterpretando 1Co 11.2-16)[5], de qualquer possibilidade interpretativa honesta. A menos que sejamos infiéis em nossa interpretação das Escrituras é que podemos deduzir que Paulo ensinou outra coisa diferente, conforme qualquer leitor poderá concluir através da simples leitura de 1 Co 11.2-16, ou, se preferir, com a ajuda da abordagem lúcida e sucinta do meu artigo anterior, ou do livro citado na nota 5, nos quais recorri a muitos excelentes intérpretes para não falar sozinho.

Às vezes fico pensando o que seria de nós se não tivéssemos em mãos a Palavra de Deus, e se esta Palavra não possuísse esses registros sagrados acerca da Igreja em Corinto. Essa igreja, aliás, como retratada nas duas epístolas de Paulo endereçadas a ela, é a chave para entendermos grande parte dos problemas que ocorrem hoje em dia na igreja evangélica. Do divisionismo ao feminismo, do intelectualismo árido à pseudo-espiritualidade, do liberalismo esquálido ao fundamentalismo infecundo, passando pelo legalismo causticante e pela hedionda carnalidade exacerbada, enfim, todas as nuanças de problemas que o evangelicalismo contemporâneo enfrenta podem ser identificadas, mesmo que embrionariamente, na Igreja de Corinto. Contudo, o que a grande maioria de nós, evangélicos, precisa reconhecer é que os problemas tratados ali naquela igreja incipiente não são para ser repetidos, mas para que nós fiquemos com a solução provida por Deus através da autoridade apostólica. Lamentavelmente, a despeito de todas as instruções de que dispomos, emulamos prazerosamente o modo coríntio de ser igreja, como se aquela vivência deformada de igreja com suas caricaturas de espiritualidade fosse o nosso paradigma! Estamos aí, após tantos séculos, aplaudindo e justificando nossas divisões com artifícios hermenêuticos e exegéticos que corariam e, por certo, irritariam os apóstolos, caso eles pudessem se pronunciar, uma vez que atribuímos a eles a causa do perfil fragmentado e multifacetado da igreja evangélica contemporânea, quando afirmamos que eles disseram que é assim mesmo que se manifesta a “multiforme graça de Deus”! Salvo um lapso de memória, o divisionismo que vemos hoje na igreja evangélica pode ser justificado, por exemplo, à luz do ensino do apóstolo Paulo em 1Co 1.10-13?

Contudo, deixemos essa questão do divisionismo de lado, por enquanto, e aduzamos apenas três diretrizes hermenêuticas bíblicas que nos permitirão consolidar nossa inequívoca conclusão de que o véu para a adoração das servas de Deus é uma questão contemporânea, se é que admitimos que a Bíblia é a Palavra de Deus inspirada, autoritativa e normativa.

Em nosso artigo anterior, vimos que a primeira razão para esta conclusão é que consistiria em uma violação do princípio bíblico da autoridade da Escritura afirmar que os apóstolos ministraram muitos ensinos condicionados pela cultura de seu tempo e que não podemos fazer uma transposição de muitas partes do Novo Testamento para os nossos dias. Mostramos que afirmar a presença de “dependência da cultura” nos ensinamentos apostólicos significa negar as doutrinas da inspiração e autoridade da Escritura, ao mesmo tempo em que nos lança em um verdadeiro subjetivismo, para estabelecer o que é ou não é condicionado culturalmente e, assim, roubando-nos todos os critérios objetivos. Este é um dos grandes males que o MHC (Método Histórico-Crítico) trouxe para a vida da Igreja: roubou a autoridade da Bíblia e investiu os intérpretes de autoridade para dizer o que nela está certo ou errado, o que é aplicável ou não contemporaneamente. Dissemos, portanto, que, efetivamente, tal procedimento não deixa de parecer com um tipo de gnosticismo[6] pós-moderno ou é uma outra forma moderna ou pós-moderna de fazer crítica da Bíblia para sancionar o querer do intérprete! Realmente, na maioria das vezes, o próprio intérprete é que está condicionado pelo legado tradicional mantido por sua denominação. Infelizmente, quando o intérprete tem de escolher entre o claro ensino da Escritura e sua tradição denominacional, por uma questão de conveniência, ele prefere ficar com sua tradição. Caímos, quando assim procedemos, na mesma condenação dos escribas e fariseus dos tempos de Jesus: invalidamos a Palavra de Deus pela nossa tradição! Peço ao leitor que leia Mt 15.1-6 com atenção e reanalise a situação da igreja evangélica contemporânea à luz desse texto. É de bom alvitre ressaltar aqui que há uma tradição no NT divinamente estabelecida e que ninguém, em tempo algum, tem autoridade de abolir, a menos que seja uma vítima do MHC e se julgue com esse direito. Diz o apóstolo Paulo em 2Ts 2.15: “Então, irmãos, estai firmes e retende as tradições que vos foram ensinadas, seja por palavra, seja por epístola nossa”.

A segunda razão que precisamos considerar para admitirmos a permanência do véu das mulheres na igreja hoje é de caráter semiológico, ou seja, diz respeito à maneira como lidamos com os símbolos estabelecidos por Deus para a igreja. Assim, quando encontramos, por exemplo, na nota de rodapé da Bíblia de Estudo Pentecostal acerca desta passagem, v. 6, a assertiva seguinte: “o princípio subjacente ao uso do véu deve permanecer, enquanto que o símbolo não”, temos de escolher entre o ensino apostólico e uma tradição interpretativa que se choca com esse ensino. Pois, abolir o uso do véu arbitrariamente por ser apenas um símbolo no NT e tentar abstrair um princípio subjacente é dicotomizar injustificavelmente o símbolo e a realidade simbolizada, passando por cima do claro ensino do apóstolo, cuja intencionalidade comunicativa claramente exposta em seu texto jamais sancionaria tal procedimento. De fato, isto demonstra, também, um procedimento semiológico dúbio, infundado e até perigoso. Por que? Porque estabelece a autoridade do intérprete em decidir o que deve e o que não deve permanecer na Palavra de Deus, quanto à questão dos símbolos. Então, se eu sou a autoridade nessas questões, a Bíblia deixa de ser a autoridade; quer dizer, o intérprete se coloca em posição acima da do apóstolo, que ordena explicitamente: Que ponha o véu!

Deste modo, se eu posso decidir ficar com alguns símbolos que julgo necessários e abolir outros que julgo supérfluos, este procedimento semiológico abre espaço para eu ter de calar-me quando alguém extrapolar nessa linha de ação, alegando que o que realmente importa é a realidade simbolizada e abaixo qualquer tipo de símbolo! Assim, se surgir um novidadeiro teológico, vítima do MHC (consciente ou inconsciente), que adotou esta posição extremada e julga que não são mais necessários o batismo, a santa ceia, o lava-pés, o ósculo santo, e outro símbolo do NT, por serem apenas símbolos, que autoridade eu terei para discordar dele, tendo em vista que eu também procedi da mesma maneira e aboli os símbolos que julguei inconvenientes e mantive outros que quis, e ele da mesma maneira? Bem, então, a questão se complica, pois se os homens são as autoridades, cada um fará o que quiser neste campo semiológico e ninguém tem direito de reclamar. Sem contar que, nesta linha de ação, tal novidadeiro teológico estaria seguindo na mesma direção que seguiu Rudolph Bultmann até que se afundou nas areias movediças de seu desassisado projeto de demitologização do evangelho em Neues Testament und Mythologie, (1964), (O Novo Testamento e Mitologia)[7]. Tudo tem um início. Os gases hermenêuticos bultimannianos, mefíticos e letais, ainda estão asfixiando muitos intérpretes até os nossos dias, desde a academia evangélica até aos púlpitos. Digo com pesar que, através de muitos simuladores de alter-ego ( pois uma boa parte dos seguidores de Bultmann possui apenas fração ínfima de sua vastíssima erudição), Bultmann, depois de morto, infelizmente ainda fala! Por ser diácono, foi cunhado o provérbio em sua memória: “Resisti ao diácono e ele fugirá de vós”. A referência óbvia aqui é a Rudolph Bultmann.

Contudo, as coisas não devem ser assim. Neste caso especifico dos símbolos do NT, é melhor que ouçamos Ferdinand de Saussure, o grande lingüista, que postulava que o significante é indissociável do significado, como os dois lados de uma moeda, e mantenhamos os símbolos que nos foram legados no NT, embora saibamos que o que importa mesmo é a realidade simbolizada. Então, diz o apóstolo, no caso das mulheres: Que ponha o véu!

Por fim, a terceira razão que nos leva a concluir em favor da contemporaneidade do uso do véu pelas mulheres na igreja de Cristo é que se torna dispensável dizer que o véu era, de fato, um costume social nos dias do NT e não foi uma criação da igreja. Por estarem inseridas dentro daquele contexto social específico, as mulheres das igrejas do NT não poderiam deixar de usar o véu. Se esse costume se constituísse apenas em uma mera imposição cultural, nada haveria nele que justificasse sua permanência na igreja pelos séculos afora. Basta observarmos, por exemplo, que a escravatura – uma prática cultural não abolida definitivamente pela igreja do NT, mas cuja natureza foi tão profundamente abalada pelos conceitos de igualdade dos membros do corpo de Cristo e de dignidade da pessoa humana ensinados pelo evangelho –, que acabou por ruir quase que totalmente séculos depois. Nada justificaria hoje termos escravos só porque alguns irmãos da igreja primitiva tinham escravos e não foram reprovados por tê-los, ainda que eles tenham recebido novas instruções sobre como tratar os irmãos escravos com toda a cordialidade que é pertinente em Cristo.

De fato, o que não podemos olvidar ou deixar de perceber é que o apóstolo Paulo, ao tratar da questão do uso do véu, em nenhum momento o faz com base em costumes sociais, porém, como o Dr. Charles Ryrie asseverou com toda a lucidez na Bíblia Anotada, nas notas sobre esta passagem de 1Co 11.2-16, p. 1446: “As mulheres deveriam trazer sua cabeça coberta, ou usar um véu nas reuniões da Igreja, e os homens deveriam ter a cabeça descoberta. As razões de Paulo eram baseadas em teologia (hierarquia na criação, v. 3), na ordem na criação (vv. 7-9), e na presença de anjos nas reuniões da igreja (v. 10). Nenhuma destas razões estava baseada em costumes sociais da época”. Deste modo, percebemos que o apóstolo Paulo procedeu a uma total ressemantização desse costume cultural, quer dizer, por revelação divina o apóstolo confere ao véu das mulheres uma significação completamente nova e ele imprime nele traços jamais divisados anteriormente por nenhum outro escritor, profano ou sagrado, de tal modo que ocorre o esvaziamento de quaisquer traços culturais, locais e temporais anteriores, a ponto de ocorrer uma ruptura semântica definitiva com quase tudo quanto o mesmo viesse a significar antes, e um revestimento de novos traços, com os quais ele entra no cânon sagrado. É óbvio que, olhando pela perspectiva da Teologia Bíblica, tal fato se justifica por estar em consonância com o caráter progressivo da história da revelação divina e pela seletividade divinamente orientada do que deveria constar do cânon sagrado. Assim, o Apóstolo dos Gentios vai muito além de si próprio, nas mãos do Espírito Santo, quando reanalisa a questão do véu, de forma a refundamentá-la em bases bíblico-teológicas completamente surpreendentes, apelando para o bom senso e, inusitadamente, atrelando-a, no clímax de seus argumentos, à presença dos anjos nas reuniões da igreja. É relevante destacarmos que, a partir dessas reanálises e refundamentações, quando o apóstolo Paulo revisita a questão do véu por inspiração divina e o ressemantiza do modo como lemos no texto em apreço, esvaem-se todos os argumentos a favor da pressuposição de que haja no NT doutrinas oriundas de condicionamentos culturais, locais e temporais. Por conseguinte, o véu das mulheres de 1 Co 11:2-16, embora fosse antes apenas um costume da época e da cultura dos tempos do NT, após revisitação, reanálise e refundamentação bíblico-teológica ou, em outras palavras, após sua ressemantização divina na instrumentalidade do apóstolo Paulo, passa a possuir um mais amplo sentido e a incorporar traços distintivos divinamente revelados, no momento e no lugar exatos da história da revelação, que o tornam supratópico, supracultural e supratemporal.[8] Somente a parussia (segunda vinda de Cristo) eliminará a necessidade do uso do véu por parte das mulheres cristãs quando da adoração, quando oram ou profetizam.

Assim, leitor, eu creio que essas três razões bem explicitam o que nos propusemos demonstrar
e no

2 comentários:

  1. O USO DO VÉU É BIBLICO SIM! O APOSTOLOS PAULO TODA DOUTRINA DADA NO NOVO TESTAMENTO É, PARA TODOS AS IGREJAS, UMA VEZ QUE DEUS NÃO DIZ AQUI UMA COISA E ALI DIZ SOBRE O MESMO TEMA.
    A MIORIA DOS TEOLOCO E PASTORES QUE PREGAM SOBRE O USO DO VÉU! NORMALMENTE JÁ FAZEM ESTUDO COM A SUA OPINÃO FORMADA E, NORMALMETE É SEMPRE ACHANDO QUE É ERRADO O USO DO VÉU PQ, A SUA IGREJA NÃO USA.
    HORA SE PAULO MANDOU A IGREJA DE CONRINTO USAR O VÉU É, PQ MAL NA FAZ, AFINAL PAULO NÃO IRIA TRAZER ESTA CONTENDA PARA DENTRO DA IGEJA.
    EM CORINTIOS PAULO ORDENOU QUE AS MULHERES USASSE O VÉU DURANTE OS RITUAIS REGIOSOS.(CULTOS)O CABELO ERA DADO NO LUGAR DO VÉU NO SEIO SOCIAL MAS, DENTRO DA IGREJA TINHA QUE USAR O VÉU.
    PQ SE FOSSE ASSIM COMO DIZEM MUITAS IGREJAS QUE NÃO USA O VÉU QUE, O CABELO FOI DADO EM LUGAR DO VÉU, PQ OS HOMENS DEVERIA ANDAR SEM CABELO! UMA VEZ QUE SÓ AS MULHERES É QUE TE DEVE USAR O VÉU! E SEGUNDO A MENTE DESTES PASTORES, O CABELO FOI EM DADO EM LUGAR DO VEU

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  2. SAIBA MAIS SOBRE O USO DO VÉU NA IGREJA, COM BASE BIBLICA, HISTORICA, TEOLOGICA, LINGUISTICA... ACESSE: WWW.ASSEMBLEIACRISTADOBRASIL.BLOGSPOT.COM SAIBA MAIS TAMBÉM SOBRE A IGREJA PRIMITIVA!

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